A noção de mito inicialmente parece simples, mas, quando investigadas a fundo, revela-se bastante complexa. O estudo dos mitos é complexo porque eles se diferenciam em cada cultura, isto é, eles são diferentes de uma sociedade para outra ou de uma época para outra.
De acordo com o romeno Eliade (1972), importante estudioso do tema, “[…] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do princípio”. Por meio de uma narrativa, o mito relaciona-se com ações promovidas por entes sobrenaturais, numa determinada realidade.
Assim, há cosmogonias, isto é, mitos que descrevem o surgimento do Universo; e os teogonias, mitos que narram o nascimento de divindades. Existem também aqueles mitos que contam a origem de um elemento do cosmo: uma espécie animal ou vegetal, uma conduta humana, ou uma instituição social. Para os gregos antigos, por exemplo, o Universo teria se originado a partir da união de duas divindades: Urano, do sexo masculino, que representaria o Céu; e Gaia, do sexo feminino, representando a Terra.
Já, para os antigos egípcios, a formação do Universo começou quando uma divindade hermafrodita chamada Atum emergiu de Nun, o oceano primordial, e gerou um casal de divindades, Chu e Tefnut. A partir deste casal teve inicio a formação do mundo.
Segundo a mitologia dos povos maias, há milhares de anos, dois deuses, chamados Gucumatz e Hurakan, teriam gritado ao mesmo tempo a palavra ”terra”, e a partir de então o mundo teria tido início.
Neste sentido, percebe-se no mito a origem do mundo e de tudo que há nele é resultado da ação de seres sobrenaturais.
Uma ruptura importante em relação à visão mitológica ou mítica do mundo foi a busca dos primeiros filósofos gregos por identificar a arché, principio fundamental e causa de tudo que existe. Isso aconteceu na Grécia Antiga, entre os séculos VII e IV a.C.
Nessa época, dependendo do filósofo, esse princípio podia ser a água, a terra, o ar ou até mesmo algo indeterminado. Estes filósofos pretendiam conhecer (como os mitos) a origem do mundo. A Filosofia desvinculava-se do mito ao interpretar o mundo a partir de elementos presentes no próprio mundo, e não a partir de explicações sobrenaturais.
Outra diferença importante é que o mito busca legitimidade na autoridade daquele que o narra ou em uma tradição. O filósofo, pelo contrario, busca o reconhecimento de suas ideias por meio de um processo argumentativo.
Por fim, a crença no mito é sempre limitada a uma cultura ou grupo de culturas em particular, enquanto as indagações filosóficas podem ser pertinentes à diversas culturas em diferentes épocas da história.
Todavia, é preciso ter em mente que, apesar do mito e da Filosofia interpretarem o mundo de forma distinta, elas se assemelham em alguns aspectos. No pensamento oriental antigo, no pensamento africano ou no pensamento indígena, por exemplo, as mitologias sempre expressam uma visão filosófica. De modo análogo, muitos filósofos do Ocidente incorporam narrativas míticas às suas argumentações.
Entretanto, não é possível conceber a Filosofia como uma evolução do mito, pois, embora a primeira pareça ter mais autonomia, esta não deve ser compreendida como superioridade.
EXERCÍCIOS
1Podemos estabelecer as diferenças do pensar mítico e filosófico a partir da seguinte reflexão:
a) O mito narra a origem a partir do divino, enquanto a filosofia discute de forma lógica a origem, o pressente e o futuro das coisas.
b) O pensamento mítico se distinguiu por ser totalmente sistematizado, enquanto a filosofia restringe suas questões meramente ao cosmo.
c) A filosofia e o mito se assemelham por explicarem os fenômenos de uma maneira lógica e sistematizada.
d) A filosofia é irracional e o mito é lógico.
e) A narração mítica é completamente burra e irracional, e o a filosofia é a explicação das coisas através da metodologia cientifica.
2 "(...) Narciso disse a ninfa Eco: "não creias que te amo"- te amo, repetiu ela, fugindo confusa para o bosque onde se deixou devorar pelo langor e pelo pesar. Tornou-se, realmente, tão magra, que dela em breve restaram os ossos, transformados em pedras, e a voz que ainda ouvimos a repetir sempre as ultimas palavras". (Mitologia Grego-Romana, Ménard René.)
O texto acima é uma tentativa de explicação sobre um fenômeno acústico denominado de Eco, qual a linguagem utilizada acima para a explicação deste fenômeno:
a) Filosófica; sendo esta uma explicação lógica e sistematizada.
b) Mítica; sendo esta uma explicação feita a partir de inúmeras experimentações.
c) Mítica; sendo esta baseada numa narrativa, onde uma força divina e não natural representa a origem de um fenômeno. d) Mítica; sendo esta fundamentada na filosofia Pré-Socrática.
e) Mítica; sendo esta baseada em uma narrativa fundamentada no filosofo Sócrates.
3 A fim de evitar a regressão ao infinito da explicação causal, o que a tornaria insatisfatória, os primeiros filósofos vão postular a existência de um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo. Tal elemento primordial:
a) Era chamado de arqué e o primeiro a formular tal noção foi Tales, elegendo para tal a água.
b) Era chamado de physis, uma vez que cada filósofo da época elegeu um elemento físico natural como princípio.
c) Só poderia ser um princípio abstrato, significando algo indefinido, subjacente à própria natureza.
d) Trata-se do átomo postulado por Demócrito.
GABARITO
1 A
2 C
3 B
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