terça-feira, 22 de agosto de 2023

O PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHECK

 O ano de 1954 foi visivelmente marcado por turbulências políticas geradas, principalmente, pela inesperada saída de Getúlio Vargas do cenário político brasileiro. O suicídio do “pai dos pobres”, justificado pela ameaça de seus oponentes, acabou se refletindo nas urnas quando a UDN assistiu a expansão dos partidos getulistas (PTB e PSD) e a sua consequente derrocada nas eleições legislativas de 1954. No ano seguinte, as disputas pelo poder foram mais tensas com a marcação da eleição para presidente.



O PTB e o PSD se uniram a favor da candidatura de Juscelino Kubitschek para presidente e João Goulart como vice. No outro lado, mesmo com seu visível enfraquecimento político, os udenistas participaram da eleição com a indicação do ex-tenentista Juarez Távora e de seu vice, Milton Campos. Refletindo a herança política deixada por Getúlio, a maioria da população acabou escolhendo JK como novo presidente no Brasil.

Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu na cidade de Diamantina, em Minas Gerais, no dia 12 de setembro de 1902. Filho do caixeiro-viajante João César de Oliveira e da professora Júlia Kubitschek, ficou órfão de pai aos três anos de idade. Estudou no Seminário de Diamantina, onde concluiu o curso de humanidades. Em 1919, prestou concurso público para telegrafista e no ano seguinte foi morar em Belo Horizonte.Em 1922, ingressou no curso de Medicina da Universidade Federal de Belo Horizonte. Em 1927, concluiu o curso. Estudou cirurgia em Paris com o professor Maurice Chevassu e estagiou no hospital Charité de Berlim em 1930.
De volta a Minas Gerais, casou-se com Sara Lemos em 1931. Foi nomeado capitão-médico da polícia mineira, chefiando o hospital de sangue de Passa Quatro, onde se destaca como cirurgião durante a revolução 1932. Em 1934, Juscelino Kubitschek ingressou na política como chefe de gabinete de Benedito Valadares, na ocasião, interventor federal em Minas Gerais. No mesmo ano, elegeu-se deputado federal, mas perdeu o mandato em 1937, com o advento do Estado Novo, quando a Câmara foi fechada. Voltou a exercer a Medicina.
Entre 1940 e 1945 foi prefeito de Belo Horizonte, numa administração, que projetou o nome do ainda desconhecido arquiteto Oscar Niemeyer, com as obras do bairro da Pampulha. Depois de filiar-se ao PSD, conquistou novo mandato de deputado federal, em 1946.
Em 1950 foi eleito governador de Minas Gerais. Nessa época, com base no desenvolvimento da energia e do transporte, criou as Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG), e construiu cinco usinas para a produção de energia elétrica, elevando em trinta vezes o potencial instalado do Estado.

Voltando ao resultado da eleição que colocou JK como presidente do Brasil, constatou-se que seus adversários inconformados com a derrota, alguns membros da UDN tentaram fortalecer a tentativa de um golpe militar depois que o então presidente Café Filho afastou-se do cargo por motivo de saúde. Para justificar a ação golpista, muitos udenistas argumentavam que a eleição de JK não era legítima porque a chapa não foi eleita com a maioria absoluta dos votos. Quando o presidente da Câmara, Carlos Luz, assumiu a presidência, militares de vertente liberal realizaram um golpe para garantir a posse de Juscelino e João Goulart.
Mesmo com sua chegada ao poder, JK ainda teve que enfrentar outros levantes (1956 e 1959) de pouca expressão que demonstravam o interesse dos militares em reassumir o governo. Em meio a essas ameaças militares, Juscelino Kubitschek lançou um ousado plano desenvolvimentista que, segundo ele mesmo, iria fazer o Brasil crescer “50 anos em 5”. O chamado Plano de Metas privilegiava pesados investimentos nas áreas de alimentação, indústria de base, educação, energia e transporte.
De forma geral, o grande objetivo era modernizar a indústria nacional por meio de diferentes ações políticas. Ao fim de seu mandato, JK conseguiu que nosso parque industrial crescesse cerca de oitenta por cento, com o aumento das usinas hidrelétricas (Furnas), da indústria de aço, a instalação da indústria de automóveis, criação de novas rodovias (Belém-Brasília) e a construção de Brasília – nova capital que simbolizaria a irreversível modernização do país.
Entretanto, o alcance de tantas benesses econômicas em um prazo tão curto de tempo teve graves consequências. Para realizar tantos investimentos, o governo de JK realizou pesadas emissões de papel moeda e abriu nossa economia para o capital estrangeiro. Com essas duas medidas, as divisas geradas pelas multinacionais instaladas no Brasil eram desviadas para seu país de origem e a emissão de moeda iniciou uma grade desvalorização monetária e a consequente inflação.
Os problemas econômicos causados pelas medidas de JK logo serviriam para que a UDN atacassem seu governo. Em diversos momentos, os udenistas iam a público para denunciar escândalos de corrupção e o mau uso dos recursos públicos. A construção de Brasília era uma das principais obras atacadas em face dos valores vultosos empregados para que a capital fosse transferida. Entretanto, a veiculação dos grandes feitos do presidente conseguiu abafar os brados oposicionistas.
Além disso, é importante lembrar que nessa época o desenvolvimentismo não foi homogêneo em todas as regiões do país. A miséria e o atraso econômico de diversas regiões impulsionaram grandes fluxos migratórios de pessoas que buscavam melhores oportunidades na região Sudeste do Brasil. Foi por isso que, em 1959, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), órgão que deveria promover a industrialização e a agricultura nessa pobre região.
De maneira geral, a aliança entre PSD e PTB garantiu que Juscelino Kubitschek não tivesse maiores problemas para governar o país. O acordo entre esses dois partidos permitiu que trabalhistas e figuras ligadas aos latifúndios e à industrialização abandonassem posturas políticas mais radicais. Dessa maneira, em 1960, os dois partidos se uniriam para lançar o marechal Lott para presidente.
No entanto, a UDN lançou a bem sucedida candidatura do populista Jânio Quadros. Buscando sempre posar ao lado dos populares e tendo como principal símbolo a “vassoura” que daria fim à corrupção que marcou o governo anterior, o candidato conservador ganhou as eleições com históricos seis milhões de votos. No entanto, seu vice perdeu a disputa colocando o trabalhista João Goulart nesse novo mandato.

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